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A Ciência é Flagrada se Prostituindo com o Capital


Em junho de 2011, um juiz federal na Carolina do Sul, E.U. A., multou a Johnson & Johnson (J & J) em 327.000.000 milhões de dólares por enganosamente comercializar seu medicamento antidepressivo. O juiz criticou o “esforço concentrado” da Johnson & Johnson para esconder informações sobre os efeitos colaterais do medicamento “Risperdal”, e frisou o desprezo da empresa pelo direito do paciente de ter toda a informação disponível para decidir ou não tomar a droga.
  Risperdal, um antipsicótico usando no tratamento de esquizofrenia,  transtorno bipolar e depressão. Estudos recentes revelaram que o uso do medicamento pode levar  ao aumentado de efeitos colaterais graves, potencialmente fatais, tais como acidente vascular cerebral e insuficiência cardíaca.
Esta decisão é a última de uma longa seqüência de caras decisões judiciais contra as empresas farmacêuticas condenadas por esconderem a verdade sobre alguns de seus produtos. Nos últimos anos, grandes nomes como Johnson & Johnson, Pfizer, Eli Lilly, Glaxo-SmithKline, a Merck, a Bristol-Myers Squibb e Forest Labs, foram multados em bilhões de dólares por esconder informações negativas sobre efeitos colaterais e a real eficácia de seus produtos, e por comercializarem medicamentos (off-label), isto é, a prescrição de medicamentos para um uso em doenças diferentes daquela para o qual o remédio foi aprovado. De acordo com um recente relatório do Associated Press, a indústria farmacêutica é a fonte número um de fraudes relacionadas no Departamento Federal de Justiça americano.
Mas o que as notícias muitas vezes deixam de mencionar, é que a corrupção de funcionários públicos feita pela indústria farmacêutica é parte de um problema maior dentro do crescente complexo médico-industrial. As Empresas farmacêuticas não conseguiriam enganar o público americano, sem a conivência de médicos, cientistas, jornais, associações profissionais e escolas de medicina. Todas estas entidades beneficiam a “generosidade” da indústria e têm pouco incentivo para mudar a maneira como os remédios e dispositivos médicos são testados, aprovados e vendidos.
Eu investiguei o interior dessa relação no meu livro “Efeitos Colaterais”. O livro conta a história do Paxil, um medicamento conhecido como antipsicótico. Junto com outras marcas como SSRIs Prozac, Zoloft e Celexa, Paxil, foram inicialmente aprovados pelo FDA (o departamento de saúde americano), para uma finalidade específica, o tratamento de distúrbios depressivos em adultos. As empresas farmacêuticas, no entanto, comercializavam esses remédios fora da prescrição para o qual foram aprovados, prescrevendo-os também para o tratamento de crianças e adolescentes que sofrem de transtorno de ansiedade e depressão. A Indústria não só deu aos pesquisadores acadêmicos milhões de dólares para realizar tais estudos, mas também pagou milhões a importantes pesquisadores e consultores da área para estarem falando, propagando os remédios nas mídias especializadas. Tais conflitos financeiros de interesse, que muitas vezes foram escondidos, resultaram em má conduta científica, neste caso, na eliminação dos maus resultados desses remédios, para fazer esses produtos mais seguros, mais eficazes aos olhos da opinião pública, do que realmente são. Na realidade, no caso do Paxil, ele não só se mostrou ineficaz no tratamento de crianças e adolescentes com depressão, mas também tornou os usuários mais jovens, quase quatro vezes mais suscetíveis a se tornarem suicidas, do que aqueles que tomam um placebo. Apenas no ano passado (2010), um gigante farmacêutico pagou US $ 750 milhões para resolver queixas criminais e civis e por vender remédios com segurança e eficácia questionável.
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Paxil, liberado originalmente como antidepressivo de uso adulto, ilegalmente foi também prescrito pelo laboratório para uso em crianças e adolescentes, o que resultou num desenvolvimento de comportamento suicida.
 A prática seletiva de publicar apenas resultados positivos e ocultar os resultados negativos já ocorreu com outros medicamentos, incluindo blockbluster Vioxx (analgésico), Avandia (anti-diabetes), Procrit (anemia), Vytorin (a redução do colesterol) e, é claro, o Risperdal um antidepressivo. No ano passado, os laboratórios Eli Lilly, AstraZeneca e a Pfizer, foram multadas em centenas de milhões de dólares cada um, por comercializarem ilegalmente drogas antidepressivas escondendo o fato de que eles causavam efeitos colaterais graves como ganho de peso e diabetes.
O Vioxx quando foi lançado, em 1999, foi anunciado como um dos remédios mais eficazes para tratar a dor das vítimas de artrite. Um dos primeiros medicamentos de uma nova classe de antiinflamatórios, os inibidores da enzima COX-2, ele prometia acabar com a dor sem os efeitos colaterais dos remédios antigos, sobretudo as úlceras e os sangramentos gastrointestinais. O entusiasmo em relação ao remédio foi tão grande que, não demorou muito, o Vioxx passou também a ser receitado para o alívio dos mais variados tipos de dor – de cólicas menstruais a desconforto muscular, de dor de dente a enxaqueca. Consumido por 84 milhões de pessoas em mais de oitenta países, o antiinflamatório transformou-se em um dos carros-chefe do laboratório americano Merck & Co. Só no ano de 2003, as vendas de Vioxx movimentaram 2,5 bilhões de dólares em todo o mundo. Foi constatado que triplicava o risco de ataque cardíaco ou um elevado grau de se ter um acidente vascular cerebral. Foi retirado do mercado em 2004.
O Avandia, fabricado pela GlaxoSmithKline, indicado para o tratamento da diabetes tipo 2. Entre os problemas identificados, está a alta probabilidade de ocorrência de infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca, derrame e outros distúrbios cardíacos associados à utilização do produto. O medicamento foi retirado das farmácias em 2010.
O Procrit é usado para tratar a anemia (falta de glóbulos vermelhos no corpo) em pacientes com Doença Renal Crônica (DRC). Procrit é também utilizado para tratar a anemia provocada por zidovudina em pacientes infectados com HIV e em certos pacientes submetidos à quimioterapia. Pesquisas recentes revelaram que os pacientes tratados com Procrit têm um risco 57% maior de desenvolvimento de efeitos colaterais graves, incluindo a formação de coágulos sanguíneos.  Efeitos colaterais do Procrit incluem um aumento do risco de acidente vascular cerebral e ataques cardíacos. A droga ainda continua á venda.
 
Pesquisadores de diferentes lugares do mundo questionaram que o uso do medicamento Vytorin seja eficaz na redução do risco de ataques cardíacos, acidentes cerebrovasculares ou males similares. Um estudo realizado na Europa chegou à conclusão de que o Vytorin não reduz a placa, mais que um tratamento com estatinas. Em julho de 2008, a droga foi ligada a um aumento no risco de câncer. Um grande ensaio clínico também descobriu que a medicação não conseguiu reduzir a hospitalização e morte por insuficiência cardíaca em pacientes com estreitamento da válvula aórtica. No processo, os pesquisadores da Noruega detectaram um significativo desenvolvimento de cânceres nos 1.800 indivíduos testados com o Vytorin. Mesmo assim, as empresas detentoras da patente do Vytorin, continuaram gastando pelo menos 155 milhões dólares por ano em anúncios de TV para convencer a opinião publica da superioridade do Vytorin. Essa droga está sob investigação do FDA americano.
Muitos defensores da indústria farmacêutica e suas “universidades parceiras” anunciaram recentemente uma colaboração de 100 milhões dólares entre a Pfizer e escolas médicas de Boston. Eles sustentam que essa esse tipo de cooperação ajuda a combater a flacidez da indústria farmacêutica e a trazer drogas benéficas para o mercado. Eles argumentam que os pesquisadores acadêmicos podem ajudar o setor no desenvolvimento de novas drogas.
Mas o financiamento [sem escrúpulo] do sector, ameaça a independência e a integridade das instituições acadêmicas, conduzindo e desviando pesquisadores acadêmicos para longe de trabalhos mais importantes, como vacinas e medicamentos para doenças raras como Lou Gehrig (doença neuro-degenerativa progressiva e fatal, caracterizada pela degeneração das células do sistema nervoso central), para drogas comercialmente mais rentáveis, remédios que têm potencial de sucesso, mas não são significativamente melhor do que aquilo que já está no mercado.
O que está em jogo é a credibilidade da ciência médica. Num momento em que o apoio da indústria farmacêutica está cada vez mais superando o financiamento do governo, os sinais da crise de credibilidade abundam. Por exemplo, uma pesquisa nacional este ano mostrou que 53 por cento dos médicos-pesquisadores das escolas nos Estados Unidos têm algum tipo de relação financeira com uma empresa farmacêutica. A diminuição de resultados negativos em revistas médicas subiu na última década.  Algumas revistas especializadas dizem que isso é porque elas estão mais vigilantes na identificação de erros, enquanto outros culpam o ambiente competitivo das bolsas de pesquisa e a pressão que exercem as empresas farmacêuticas sobre os pesquisadores para chegarem a resultados positivos nas pesquisas clínicas.
Um estudo recente na revista “Archives of Internal Medicine” também descobriu que, em apenas um ano, 25 dos 32 consultores do setor (ganharam pelo menos $ 1 milhão de dólares) das empresas farmacêuticas, para não divulgarem suas ligações financeiras com elas, em artigos de jornal e revistas, uma violação das políticas de publicação americanas.
Algumas reformas foram postas em prática. Em 2007, o congresso americano aprovou uma lei exigindo que as empresas farmacêuticas divulguem em um site público, os resultados completos de testes clínicos de remédios, e não apenas resultados positivos. Embora isso seja um passo louvável em primeiro lugar, ainda é muito difícil para a maioria dos consumidores comuns entenderem o grande volume de dados técnicos que foram postados.
No ano passado, como parte da reforma do setor de “Cuidados da Saúde”, o Congresso americano também aprovou o (Sunshine Act), uma lei que obriga as empresas farmacêuticas a partir de 2013, a tornar pública a lista de todos os médicos e pesquisadores sob sua folha de pagamento. Várias empresas já começaram a postar as informações em forma de banco de dados, mas continua a ser difícil para os consumidores interpretar os conflitos médicos e seus interesses individuais.
Algumas proeminentes faculdades médicas dos EUA tomaram medidas para coibir conflitos de interesse entre seus professores, por exemplo, exigindo a divulgação completa de seus trabalhos externos em consultorias, suas participações em sociedades científicas e em conselhos consultivos de empresas. Mas ainda ficaram devendo. As instituições acadêmicas deveriam proibir seus professores que estão ganhando mais de US $ 10.000 mês, de prestar consultoria para empresas farmacêuticas, e de fazer pesquisa para essas empresas.
Reformas adicionais são necessárias. Os testes clínicos de remédios devem ser removidos do controle direto das empresas farmacêuticas e passar a ser administrado por uma agência federal independente financiada com dinheiro das indústrias e do governo federal. Além disso, as instituições acadêmicas que recebem financiamento da indústria farmacêutica devem insistir para que os remédios desenvolvidos a partir dessa parceria, sejam disponibilizados ao público a preços razoáveis. Este fato é quase universalmente ignorado hoje. Em grande parte porque as universidades, em seus contratos de pesquisa com a indústria, não tem controle sobre a política de preços dessas empresas. Como resultado, os contribuintes pagam duas vezes: Primeiro, eles pagam grande parte da pesquisa através dos impostos, e em seguida pagam preços exorbitantes pelos remédios.
O National Institutes of Health (NIH), uma agência do departamento de saúde americano, também deveria começar a impor suas próprias regras nesse conflito de interesses, cancelando a ajuda financeira para pesquisadores financiados pelo governo federal que não divulgam suas relações com as indústrias. Em vez disso, os lobistas das universidades e das indústrias, com sucesso, pressionaram o NIH, que financia bilhões de dólares em pesquisa médica, a derrubar uma norma que iria exigir das universidades postarem em sites públicos, os conflitos de interesse específicos dos seus cientistas financiados pelo governo federal.
Nas palavras da Juíza federal americana Louis Brandeis, “A luz solar é o melhor desinfetante. Mas “o clima”, que deveria favorecer a parte mais importante, os consumidores, muitas vezes costuma deixá-los no escuro”.
Alison Bass
Alison é Jornalista premiada e ensina jornalismo na Universidade Brandeis. Seu livro, “Efeitos Colaterais”, ganhou o Prêmio da Sociedade Científica NASW.
É preciso chamar a atenção, de que, os remédios citados nessa matéria não funcionavam ou eram nocivos aos pacientes, não por questão de erro médico, mas por falta de escrúpulo e ganancia da classe científica. Essa mesma fonte de conhecimento que deprecia a bíblia, mas que ainda assim, nós crentes colocamos nela uma boa dose de confiança. A matéria revela que uma parcela dos medicamentos que estão à venda, não se sabe o tamanho dessa parcela, estão lá, não porque fazem algum efeito, mas porque, como qualquer outro produto, eficiente ou não, precisam ser vendidos para satisfazer a fome de dinheiro dos cientistas e empresas fabricantes. Empresas que em muitos casos, pertencem aos próprios. Essa é uma face da endeusada e “indiscutível” ciência, que poucos querem ver, muito menos admitir! E por traz de todas essas instituições científicas, estão homens bem sucedidos e honrados pela sociedade como homens dignos do mais alto respeito… Tirem suas próprias conclusões sobre o que realmente abrange a palavra Ciência!
Que só Deus nos influencie!
Roberto Aguiar
Tradução e adaptação: Roberto Aguiar
Fonte: Brandeis Magazine. Título original, “Big Pharma on Campus: A Prescription”
Revista “Veja 0n-line” – http://veja.abril.com.br/061004/p_088.html

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