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Com Humildade, Passo a Passo

"Não ambicioneis coisas altivas mas acomodai-vos às
humildes" (Romanos 12:16)

Um membro de certa igreja procurou o pastor para lhe dizer que estava pretendendo visitar a Terra Santa. Disse que sua pretensão era ir até o Monte Sinai. "Na realidade," disse o homem ao pastor, "meu plano é subir no Monte Sinai e quando chegar bem no topo, ler em voz alta os Dez Mandamentos." Achando que sua decisão iria agradar ao pastor, o homem ficou muito surpreso ao ouvir dele: "Olhe, eu creio que você poderia fazer algo muito melhor do que isto." "É mesmo, pastor," respondeu o homem, "e o que eu deveria fazer?" O líder logo concluiu: "Em vez de vocÊ viajar milhares di quilômetros apenas para ler os Dez Mandamentos em voz alta no Monte Sinai, fique em casa mesmo e guarde-os?"

Estamos sempre planejando coisas grandiosas na busca de nossos objetivos de conquistas. Achamos que se nossos feitos forem espetaculares, seremos reconhecidos, respeitados e, como consequência, felizes. Mas nem sempre isso corresponde à realidade.

Quando nossos sonhos se baseiam em empreendimentos de grande vulto, as possibilidades de fracasso são muito maiores e, as decepções advindas da não realização destes podem levar-nos a desistir mais facilmente de nossos ideais.

Quando projetamos, para nossa felicidade, situações bem mais modestas, poderemos atingir nossos propósitos muito mais rapidamente e, a partir daí, passo a passo, animados com a vitória, atingir patamares mais elevados até, quem sabe, alcançar aquele sonho que, a princípio, poderia ser quase impossível de concretizar.

Aprendamos, acima de tudo, a colocar todos os nossos planos diante de Deus. Reconheçamos que nada somos sem Ele e que precisamos de sua direção para vencer as barreiras e alcançar as bênçãos almejadas.

Paulo Barbosa
Um cego na Internet
Autor dos livros: Despertando Para Missões, Mensagens Para o
Coração e Um Raio de Sol Para Dias Sombrios
tprobert@terra.com.br
http://intervox.nce.ufrj.br/~tprobert



 



A VINDA DE JESUS E A RESSURREIÇÃO DOS SANTOS





A doutrina da ressurreição é uma das grandes diferenças da fé cristã e fundamental para o comportamento do crente frente à morte física.
INTRODUÇÃO
- Ao enfrentar aquele que talvez fosse o principal problema comportamental dos crentes de Tessalônica, qual seja, o desespero ante a morte física de alguns crentes e o temor da própria morte, o apóstolo Paulo, em plena  parte prática, dá um ensinamento precioso a respeito da doutrina da ressurreição e da sua vinculação com a volta de Cristo.
- O cristão é alguém que vê a morte física sob um aspecto totalmente distinto daquele que não crê em Jesus Cristo e, por isso, o crente não somente vê a morte sob um prisma totalmente diverso, como encara a própria vida terrena de modo totalmente diferente.
I – OS SIGNIFICADOS DISTINTOS DE MORTE NA BÍBLIA SAGRADA
- O apóstolo Paulo, certamente na narrativa que lhe fez Timóteo, que havia estado em Tessalônica a seu pedido (I Ts.3:2), notou que os crentes daquela cidade, apesar de terem um testemunho exemplar e de demonstrarem suportar bem a perseguição, tinham uma conduta frente à morte física de seus irmãos que não correspondia ao comportamento que se podia esperar de um cristão.
- Pelo que se pode inferir do ensino de Paulo, os crentes de Tessalônica não sabiam lidar com a questão da morte física de seus irmãos, achando que aqueles que haviam morrido perderiam a oportunidade de ser arrebatados pelo Senhor Jesus quando este voltasse. Paulo havia-os ensinado que Jesus brevemente voltaria e, por isso, todos aguardavam ansiosamente o dia do retorno do Senhor, ainda para aqueles dias, mas o fato é que Jesus não tinha ainda vindo e alguns dos crentes faleceram. Com seu falecimento, entendiam os tessalonicenses, tinham perdido a oportunidade de ser arrebatados e sobre aquela comunidade sobreveio o medo da morte e um sentimento de desespero.
- A morte é, sem dúvida, um dos fatos que mais intrigam o ser humano. Registros de todas as comunidades humanas, em todas as épocas e em todos os estágios civilizatórios, mostram que o tema da morte é uma questão com a qual o homem sempre se depara, sem saber como dela cuidar. Esta perplexidade do homem diante deste tema é, aliás, mais uma demonstração de que a morte surge como um elemento intruso, inadequado e indevido na existência humana.
- A Bíblia mostra claramente que o homem não foi feito para morrer. O homem foi criado para ser imagem e semelhança de Deus (Gn.1:26,27), um verdadeiro reflexo da divindade na criação e, por isso, a eternidade, que é um dos atributos divinos mais proeminentes (Gn.21:33; Dt.33:27), tinha de ser vista no ser humano, ainda que como uma eviternidade, ou seja, uma existência que tivesse princípio mas não tivesse fim.
- No entanto, a morte era uma possibilidade para o homem, pois o próprio Deus assim o quis, dizendo ao homem que a morte seria conseqüência da sua desobediência (Gn.2:17). O primeiro casal pecou e, como conseqüência do pecado, tivemos a inserção da morte na existência humana. Por isso, é dito que o salário do pecado é a morte (Rm.6:23).
- Morte significa separação e, a partir do pecado, houve, de imediato, uma separação entre Deus e o homem. Esta separação deu-se logo naquele dia, quando o Senhor Se apresentou no jardim. A Bíblia diz-nos que o primeiro casal procurou fugir da presença de Deus (Gn.3:8), a demonstrar, pois, que não havia mais a comunhão entre Deus e o homem, que o pecado havia produzido a separação entre o Criador e a sua mais sublime criatura sobre a face da Terra (Is.59:2).
- Vemos, nesta atitude do homem, a morte espiritual, que é o primeiro significado da morte para o ser humano. A morte espiritual é a separação entre Deus e o homem, é a ausência de comunhão entre Deus e o homem. É chamada de  morte espiritual porque é o espírito humano que promove este elo de ligação entre Deus e o homem, daí porque se dizer que, quando o homem aceita a Cristo como seu Senhor e Salvador, há a vivificação do espírito (I Co.15:22), bem como que o homem, antes da salvação, está morto em seus delitos e pecados (Ef.2:1).
- Como conseqüência da morte espiritual, vemos que houve, também, uma morte moral do ser humano. Tendo sido descoberto por Deus na sua inútil tentativa de dEle se esconder, o homem é posto diante da presença do Senhor e vemos, então, não mais o ser que era a imagem e semelhança de Deus, cônscio de seus deveres e responsabilidades, cientes de seus direitos, mas alguém que não assume qualquer responsabilidade, que procura culpar o próximo, mesmo sendo a pessoa que tanto amava. Adão, diante do seu erro, tenta culpar sua mulher e esta, por sua vez, acusa a serpente.
- O homem, espiritualmente morto, também se encontrava moralmente morto. A morte moral é decorrência direta da morte espiritual. A morte espiritual separou o homem de Deus, enquanto que a morte moral separou o homem do seu próximo. O ser humano não mais passou a amar o semelhante, a amar o próximo, mas a ser egoísta, querendo apenas o interesse próprio, enxergando somente a si mesmo. Adão quis se safar de qualquer punição, imputando a Eva toda a responsabilidade e Eva, por sua vez, fez o mesmo, imputando tudo à serpente(Gn.3:12,13). O homem se encontrava separado do próximo, encontrava-se separado da virtude, do que é certo. Era a morte moral deste ser que havia sido feito com capacidade de discernimento. Estavam separados da liberdade e seu desejo, agora, estava escravizado pelo pecado (Gn.4:7).
- Mas não é apenas a morte espiritual ou a morte moral que advêm por causa do pecado. Ainda naquele fatídico dia da queda do primeiro casal, Deus impôs uma outra conseqüência do pecado, a saber: a morte física.  No suor do teu rosto, comerás o teu pão, até que te tornes à terra, porque dela foste tomado, porquanto és pó e em pó te tornarás (Gn.3:19). Deus determinou que, por causa do pecado, passasse o ser humano a ter uma degeneração de seu corpo físico, até que ele se separasse do homem interior (alma e espírito), que é a morte física. O corpo, feito do pó da terra, teria de voltar a esta terra, voltar a ser pó, o que ocorreria no momento determinado por Deus, quando, então, ocorreria a separação entre o homem exterior e o homem interior.
- A morte física foi, assim, a segunda espécie de morte que surge para o homem, morte esta que não escolhe idade nem tem uma causa certa ou predeterminada. O primeiro homem cuja morte física é narrada na Bíblia foi Abel, filho de Adão e de Eva, mais jovem do que eles, portanto, que morreu de  morte matada”, ou seja, foi vítima de crime praticado por seu irmão Caim, a chamada morte violenta(Gn.4:8). Depois, o próprio Adão é apresentado como tendo morrido, depois de ter vivido 930 anos após a perda da imortalidade (sim, o tempo de vida de Adão nos é desconhecido, apenas sabemos que viveu 930 anos depois que foi sentenciado à morte física por Deus). É o exemplo de morte natural, morte decorrente da degeneração do organismo, diante da sentença divina dada no jardim do Éden (Gn.5:5).
- Mas também Deus mostraria que as pessoas também morrem por conta de um juízo divino, como ocorreu quando do dilúvio, quando o Senhor resolveu destruir o gênero humano da face da Terra por causa da sua impiedade(Gn.7:21). Mas ainda há o caso da morte por enfermidade, por uma doença ou por complicações orgânicas que acometem o homem e aceleram o processo de degeneração, como aconteceu com Raquel (Gn.35:18,19) ou com Jacó (Gn.48:1; 49:13).
- Ainda que seja por causas várias, o fato é que ninguém escapa da morte física, todos quantos nasceram sobre a Terra, morreram fisicamente, sejam ricos ou pobres, doutos ou indoutos, homens ou mulheres, fiéis ou infiéis. A morte física é inevitável, é o resultado de uma sentença dada por Deus a toda a humanidade, através do primeiro casal(Ec.9:5  in initio”), algo que somente Cristo mudaria, como adiante se verá nesta lição.
- Mas, além da morte espiritual, da morte moral e da morte física, a Bíblia fala-nos da morte eterna ou  segunda morte” (Ap.20:14), que é a separação eterna de Deus, resultado da condenação no julgamento final, quando, então, aqueles que resolveram viver longe da presença de Deus, que recusaram o Seu senhorio em suas vidas, serão lançados no lago de fogo e de enxofre para todo o sempre. Esta separação é definitiva e não representa aniquilamento ou fim da existência, mas uma separação eterna e irreversível de Deus.
II – A REAÇÃO DOS TESSALONICENSES DIANTE DA MORTE FÍSICA E O CONCEITO DE MORTE ENTRE JUDEUS E GENTIOS ATÉ OS ENSINOS DE CRISTO
- A morte, em todos os seus aspectos, é conseqüência do pecado e, portanto, é algo que está completamente fora do plano original de Deus para o ser humano, o que explica porque o homem não aceita a idéia da morte e tem tido, ao longo da sua existência sobre a face da Terra, grande dificuldade em assimilá-la, já que, no seu âmago, esta idéia do final da existência contraria a sua mente e a sua concepção, que reflete a sua originária existência sem fim.
- Os crentes de Tessalônica, como já vimos, eram provenientes de origem étnicas e culturais diferentes. A igreja tinha tanto judeus quanto gentios e, entre os gentios, não eram todos macedônios, de cultura grega, uma vez que Tessalônica era a capital da província romana da Macedônia e, portanto, tinha uma população com pessoas de todos os cantos do Império Romano, pois assim se formavam os quadros administrativos (principalmente os militares) pelo governo romano.
- Diante disto, a maneira pela qual os tessalonicenses encaravam a morte era diferente, dependendo da cultura de cada povo a que pertenciam os crentes daquela igreja de novos convertidos. Cada um tinha uma visão a respeito da morte, pois toda cultura tem de enfrentar este problema, que é geral e abrange todo ser humano. Para complicar ainda mais a situação, este tinha sido um dos assuntos que o apóstolo Paulo não tinha tido tempo de ensinar os irmãos, no seu trabalho de evangelização, tanto que afirma que eles eram  ignorantes” a respeito do assunto (I Ts.4:13), ou seja, não haviam sido ainda ensinados sobre o tema.
- É importante observar que o apóstolo, ao saber da crise que se criara na igreja de Tessalônica a respeito da morte dos crentes antes da volta de Jesus, reconheceu que isto se devia por ignorância, ou seja, porque aqueles crentes não haviam sido ensinados sobre o assunto e não era seu desejo que isto acontecesse. Quão diferente era o apóstolo Paulo de muitos que, hoje em dia, estão à frente de igrejas locais. Paulo não queria, não admitia e não aceitava que os crentes fossem  ignorantes”, que não tivessem conhecimento da doutrina e da Palavra de Deus. Hoje em dia, muitos fazem questão que os crentes nada saibam, que se mantenham nos  tempos da ignorância”, para terem condições de domínio sobre o povo, admitindo, assim, que são, também eles, ignorantes (talvez um pouco menos que os crentes que governam) e temem que, com o conhecimento, os crentes descubram sua preguiça em conhecer as coisas de Deus.
- O objetivo de todo aquele que é colocado à frente do povo de Deus é de aprimorar-lhe os conhecimentos, de fazê-los crescer na graça e no conhecimento de Cristo Jesus. Lamentavelmente, muitos, com sede de poder e de domínio (o que é totalmente indevido em termos de igreja local, cfr. I Pe.5:2,3), repetem o que temos assistido ao longo da história do mundo, notadamente em países como o Brasil: o de manter o povo na ignorância a fim de terem melhores condições de dominá-lo. Entretanto, estes que assim agem esquecem-se de que os crentes têm a mente de Cristo e que o Senhor tem o propósito de fazer os crentes crescerem, se aperfeiçoarem espiritualmente e, portanto, quer eles queiram, ou não, o Senhor proporcionará ao Seu povo o aprimoramento espiritual, levantando mestres para ensinar a Palavra de Deus.
- Paulo tinha todo o interesse de remover a ignorância no meio do povo de Deus e, por isso, sabendo da dificuldade com que os crentes tessalonicenses enfrentavam a questão da morte do seus irmãos em Cristo, acabou por ministrar um verdadeiro ensino doutrinário a respeito da morte física e da ressurreição, embora estivesse em plena  parte prática” da epístola, um parêntese extremamente valioso não só para a igreja de Tessalônica, mas para a igreja de todos os tempos da graça, pois, com o apóstolo, aprendemos o significado da morte para o servo de Deus e renovamos a nossa esperança na volta de Cristo.
- A idéia da imortalidade estava presente tanto na cultura grega quanto na cultura judaica. A morte é algo que vai contra o projeto original de Deus e o homem, no recôndito de seu ser, não aceita a idéia da morte, de forma que não foi difícil a ele chegar à concepção de que a morte física não poderia ser o fim de tudo. Até mesmo os materialistas, que entendem que, com a morte física, não há mais qualquer existência para o homem, reconhecem que ela, em absoluto, representa o fim do ciclo da natureza, que prossegue o seu fluxo.
- A idéia de imortalidade, entre os gregos, mais propriamente dentro da chamada cultura helenística, uma simbiose da cultura grega com as culturas orientais que foi o resultado das conquistas de Alexandre, o Grande, que praticamente absorveu a cultura romana, estava bem presente.  …Os gregos reputavam o corpo como um obstáculo para a verdadeira vida e ansiavam pelo tempo em que a alma se veria livre de suas algemas. Concebiam a vida após a morte em termos de imortalidade da alma, ainda que rejeitassem firmemente a idéia da ressurreição (cf. a zombaria contra a pregação de Paulo em Atenas, em At.17:32).…” (L.L. MORRIS. Ressurreição. In: J.D. DOUGLAS (org.). O Novo Dicionário da Bíblia, p.1394-5).
- Os gregos, principalmente depois de sofrerem a influência dos chamados  cultos órficos”, que, por sua vez, estavam relacionados com as crenças hinduístas, passaram a entender que o homem sobreviveria à morte física, que esta seria apenas a perda do corpo, mas que a alma permaneceria e encarnaria novamente. Tinham, portanto, a idéia da reencarnação, que vem do hinduísmo e do budismo e que acabou sendo acolhida na doutrina kardecista, mas que não tem coisa alguma a ver com a doutrina cristã da ressurreição. Os crentes de Tessalônica que eram gentios tinham esta crença e, por isso mesmo, eram  ignorantes” com relação ao assunto da morte física.
- A idéia de imortalidade também estava presente entre os judeus. As Escrituras hebraicas contêm afirmações a respeito da imortalidade, da existência após a morte física, desde o seu primeiro escrito, que muitos entendem ter sido o livro de Jó, que teria sido escrito pelo próprio patriarca ou por Moisés, quando ainda estava entre os midianitas. Em Jó 19:25-27, o patriarca exclama que sabia que seu Redentor vivia e que por fim se levantaria sobre a Terra e que, depois de consumida a sua pele, ainda em sua carne veria a Deus, vê-lO-ia por ele mesmo e pelos seus próprios olhos, e não outros, O veriam e por isso os rins dele se consumiam diante dele.
- Por mais que se especule a respeito deste texto, por mais que se levantem questionamentos a respeito da passagem, não há como deixar de ver aqui uma noção de uma imortalidade, de uma existência depois da morte física ( depois de consumida minha pele”, diz o patriarca). Mas, ao contrário do que acontecia com os gregos, esta idéia das Escrituras hebraicas, que perpassará toda a revelação divina através do Antigo Testamento, sempre traz a idéia de uma nova existência após a morte física, mas com o mesmo corpo que foi consumido.  Ainda na minha carne, os meus próprios olhos, e não outros”, dizia o patriarca. Esta mesma crença, aliás, está presente em Marta, quando Jesus lhe indaga, em Betânia, se cria que seu irmão Lázaro haveria de ressuscitar (Jo.11:23,24).
- Na igreja de Tessalônica, havia um grupo de judeus (At.17:3,4  in initio”), os quais, certamente, compartilhavam destas crenças judaicas a respeito da imortalidade e da ressurreição, entendida, porém, como sendo o retorno no mesmo corpo de antes, idéia esta que se fortalecera ante o relato dos milagres de ressurreição operados pelos profetas Elias e Eliseu, bem como pelo próprio Jesus. No entanto, esta idéia da ressurreição era apenas uma tênue demonstração do que estava para ser revelado pelo próprio Cristo, na Sua própria ressurreição, ressurreição esta que é a própria razão de ser da fé cristã (I Co.15:14).
OBS:  …Ela [a doutrina da ressurreição, observação nossa] expressa a certeza de que, quando chegar o Messias, os mortos se levantarão fisicamente de novo e se reanimarão com as almas individuais que haviam sido suas em vida. A crença na Ressurreição ocupa uma posição primordial no pensamento religiosos judaico. Para os devotos, ela tem sido o elo de ligação entre o mundo da realidade e o mundo sobrenatural do Além. Maimônides [o principal filósofo judeu e um respeitado comentarista das Escrituras, observação nossa] fez dela o conteúdo dos Treze Artigos de Fé que elaborou para que servisse de princípios de orientação para a religião judaica.…” (Nathan AUSUBEL. Ressurreição. In: A JUDAICA, v.6, p.714-5).
- Paulo, entretanto, havia ensinado que Jesus breve voltaria, que a Igreja seria arrebatada e que os crentes habitariam as moradas que o Senhor havia ido preparar (Jo.14:2,3). Deste modo, não era caso de se esperar uma outra vida, uma reencarnação, para que se tivesse direito ao gozo celeste, nem tampouco de esperar a ressurreição, pois a ressurreição ocorreria com a chegada do Messias e o Messias há havia vindo. Assim, alegres, os crentes de Tessalônica aguardavam o retorno de Cristo, mas, eis que alguns dos irmãos da igreja morrem, antes que Jesus chegasse. Ora, se Jesus voltaria e não havia porque esperar numa existência para depois desta vida física, como, então, enfrentar a morte? Como explicar o que ocorreria com os crentes que morressem antes de Jesus voltar? Foi esta dúvida que fez com que os crentes voltassem a um estado de perplexidade diante da morte física que o apóstolo teria de dissipar.
III – O ENSINO DE PAULO A RESPEITO DA MORTE FÍSICA E A PROMESSA DA RESSURREIÇÃO DOS SANTOS
- O apóstolo Paulo inicia seu ensino a respeito da morte física aos crentes de Tessalônica, informando que os crentes falecidos  dormiam”, fazendo, assim, uma grande distinção entre os crentes falecidos e as demais pessoas que haviam morrido. A expressão  dormiam” (em grego, κοιμωμένων, i.e.,  koimoménon”) que surge neste que é, talvez, o primeiro escrito do Novo Testamento, será repetida por mais quatorze vezes nas Escrituras, sempre se referindo a morte de pessoas crentes (Mt.27:52- santos que ressuscitaram depois de Jesus; Jo.11:11- Lázaro; At.7:60 – Estevão; At.13:36 – Davi; I Co.7:39 – marido crente; I Co.11:30 – crentes em Corinto; I Co.15:6,18,20,51 – crentes falecidos; I Ts.4:13,14,15 – crentes falecidos em Tessalônica; II Pe.3:4 – crentes falecidos da primeira geração da igreja). Assim, é uma expressão reservada para os crentes, para os fiéis, que não se reproduz com relação à morte física dos ímpios.
- O uso desta expressão por parte do apóstolo já demonstra haver, pois, uma diferença entre a morte física dos crentes e a morte física daqueles que não haviam aceitado a Cristo como seu Senhor e Salvador, o que já é um indicador de que não se refere a um estado do homem após a morte física, como têm entendido alguns segmentos religiosos, em especial, os adventistas. A utilização de uma expressão diferenciada para designar a morte física dos crentes reflete uma distinção de destino entre uns e outros, o que, de pronto, já revela não ser possível considerar que, após a morte física, tanto crentes quanto ímpios participarão de um estado de inconsciência.
- A expressão  dormiam” aqui foi empregada por Paulo em significado figurado, ou seja, não deve ser considerado do ponto-de-vista literal, mas revela que havia um descanso, que havia apenas uma interrupção do convívio dos crentes falecidos com os que ainda viviam, assim como acontece quando estamos dormindo. Quando dormimos, separamo-nos daqueles com quem convivemos. Estamos presentes em corpo, mas ausentes, separados de todos aqueles que estão à nossa volta, inconscientes em relação aos que nos cercam, mas vivos e ativos na dimensão interna do nosso inconsciente, onde, inclusive, temos sonhos, sonhos estes que, como têm os psicólogos revelado ao longo dos anos, muitos nos revelam a respeito de nosso mundo interior e até fazem associações que o estado de acordado não nos permite atingir.
- Quando Paulo usa a expressão  dormiam”, em hipótese alguma estava dizendo que, quando uma pessoa morre, ela passa a ficar inconsciente, a ter um sono espiritual que somente terminará quando da volta de Cristo ou do julgamento final. Se Paulo estivesse dizendo isto, estaria contradizendo o próprio Jesus, que, ao relatar a história do rico e de Lázaro, mostra claramente que, após a morte, a pessoa mantém plenamente a sua consciência, sendo levada a um lugar onde aguardará ou a primeira ressurreição, ou a ressurreição do último dia (Ap.20:5,12 e 13).
- Se Paulo estivesse dizendo que os homens, ao morrerem, entram num estado de inconsciência, estaria contradizendo o próprio ministério de Jesus Cristo, que, ao se transfigurar, conversou e teve a companhia de Elias e de Moisés, tendo este último morrido fisicamente (Dt.34:5). Como ainda não havia ocorrido seja a primeira ressurreição, seja a ressurreição do último dia, como o libertador de Israel poderia estar consciente naquele evento? E, o que é relevante, uma testemunha desta aparição, o apóstolo Pedro, é precisamente um dos escritores que se refere à morte física do crente como sendo  dormir” (I Pe.3:4).
- Se Paulo estivesse dizendo que os homens, ao morrerem, entram num estado de inconsciência, estaria contradizendo o próprio Jesus Cristo que, quando indagado sobre a ressurreição, pelos saduceus, disse que Deus Se identificou a Moisés como o Deus de Abraão, Isaque e Jacó porque era um Deus de vivos e não de mortos (Mc.12:27), acrescentando ainda que eles, saduceus, erravam muito por entenderem que a morte física era o fim de tudo.
- Vemos, portanto, que não há como se defender que a morte física é uma circunstância de inconsciência por parte do homem, até porque, como vimos, a morte física é tão somente a separação do corpo do homem interior, pois o que Deus sentenciou foi o retorno do pó à terra e o homem interior não veio do pó da terra, mas do fôlego de vida inserido no homem pelo próprio Deus (Gn.2:7).
- Paulo utiliza-se da expressão  dormiam” precisamente para mostrar aos crentes de Tessalônica que a morte física para o crente era um estado de separação da comunidade, mas uma separação temporária, passageira, assim como é a separação daquele que dorme dos seus familiares. Quando dormimos, separamo-nos daqueles com quem convivemos por um período de tempo, sem, no entanto, deixar de viver, sem que nem sequer deixemos de ter atividades psíquicas e mentais. Vezes há, até, em que, no sono, Deus mesmo Se revele ao homem, através de sonhos, como há diversos registros nas Escrituras, mais um fator a nos mostrar que o sono indica inatividade apenas para aqueles que cercam o que dorme e que, em momento algum, signifique suspensão de vida, como, erroneamente, defendem os adventistas, capitaneados por Ellen White.
- Paulo, ao usar esta expressão, que se consagraria nos escritos do Novo Testamento, que foi fruto da inspiração do Espírito Santo, a um só tempo, mostra que a morte física é um estado passageiro, como é o sono, como também revela que há apenas uma aparência de inatividade para os que convivem com o falecido, para a comunidade, mas que não deixa de haver vida, de haver atividade, a atividade do homem interior, a consciência no relacionamento com Deus.
- Ao dizer que os crentes falecidos  dormem”, entretanto, o apóstolo deixa também claro que não há como haver comunicação entre os crentes que estão vivos e os que  dormiram”. Mais uma vez, de forma peremptória, as Escrituras indicam-nos não ser possível a comunicação entre vivos e mortos, assim como não pode alguém que está acordado se comunicar com alguém que está dormindo.
- Muitos, aliás, se impressionam com a tese da inconsciência após a morte física exatamente para demonstrar que os mortos não se comunicam com os vivos, tese esta que é a própria essência do espiritismo. O Pequeno Dicionário Enciclopédico Koogan-Larousse define espiritismo como sendo   a doutrina cujos partidários pretendem provocar a manifestação dos ‘espíritos’, em particular a das almas dos defuntos, e entrar em comunicação com eles, através de um mediador a que chamam médium” (p.337). O próprio Allan Kardec, considerado o  codificador da doutrina espírita”, em seu Livro dos Espíritos, afirma que  …a Doutrina Espírita ou o Espiritismo tem por princípio as relações do mundo material com os Espíritos ou seres do mundo invisível…”(Trad. de J. Herculano Pires. São Paulo: FEESP, s.d., p.19). Assim, é espírita quem crê que os mortos podem se comunicar com os vivos.
- Entretanto, não há a necessidade de se crer na tese da inconsciência do homem após a morte física para se negar o espiritismo, como defende Ellen White. A expressão  dormiam” significa precisamente isto: não há comunicação entre mortos e vivos, assim como não há comunicação entre quem dorme e quem está acordado, mas isto, em absoluto, significa que o que dorme está inativo ou sem vida.
OBS: No capítulo 34 de sua obra A um passo do Armagedom, Ellen White, a principal doutrinadora do adventismo, faz a correlação entre a crença na comunicação entre vivos e mortos com a da consciência do homem após a morte física, o que, como se vê, não tem qualquer respaldo ou fundamentação. Ademais, para White, a idéia da imortalidade da alma teria origem pagã, o que, como vimos, é apenas uma meia verdade. O paganismo fala da imortalidade da alma, mas é a Bíblia quem ensina que o homem foi feito para ser imortal.
- Por causa disto, também, não podemos, de modo algum, concordar com alguns  testemunhos” que têm sido proferidos por simpatizantes do sr. Ouriel de Jesus, de diálogos e conversas entre crentes falecidos, que estariam no  paraíso”, no  terceiro céu”, e crentes que estão conosco aqui, esperando Jesus. Tais  experiências” são sem qualquer respaldo bíblico e, se não forem farsas ou fraudes, nada mais são do que manifestações demoníacas, idênticas às manifestações mediúnicas dos kardecistas. Os crentes que morrem fisicamente  dormem”, ou seja, não se comunicam com os que com ele pertenciam a parte do corpo de Cristo que está viva aguardando a volta do Senhor Jesus.
- Mas, poderão alguns dizer que Jesus Se comunicou com Elias e com Moisés no monte da transfiguração, o que, aliás, dissemos há pouco como prova de que não há inconsciência após a morte física. Entretanto, se bem verificarmos o episódio, que é descrito tão somente por Mateus, veremos que Jesus, antes de conversar com os dois homens de Deus, Se transfigurou(Mt.17:2,3), no único episódio em todo o Seu ministério em que Sua humanidade foi absorvida pela Sua deidade. Com isto, temos claramente que não foi o homem Jesus, ainda vivo, que conversou com Moisés, mas, sim, o Filho de Deus, na plenitude da Sua glória. Enquanto Deus, Jesus poderia, sim, conversar com os mortos, porque Deus não é Deus de mortos, mas Deus de vivos, para Ele não há esta barreira, que é fruto do pecado na vida humana. Assim, ao Se transfigurar para poder dialogar com quem já passou desta dimensão física da vida, Jesus, uma vez mais, confirma que não há comunicação entre os homens vivos e os homens que já morreram fisicamente. Ademais, observemos que nenhum dos discípulos conversou com Moisés e Elias, apenas Jesus, enquanto esteve transfigurado.
- Paulo, ao usar da expressão  dormiam”, portanto, não disse que os que morrem ficam inconscientes, mas apenas afirmou que os que morrem não mais se comunicam com os vivos e desfrutam de um estado passageiro, transitório, que se encerrará com a ressurreição.
- Advém, então, a segunda parte do ensino de Paulo àqueles crentes. O apóstolo afirma aos crentes de Tessalônica que eles não deveriam se entristecer como os demais, ou seja, a morte física é motivo, sim, de tristeza e os crentes, enquanto seres humanos, sentirão, sim, a dor da separação, a angústia da interrupção de uma convivência com pessoas queridas, pessoas que compartilhavam conosco da mesma fé, da mesma esperança, pessoas que se amavam umas às outras, como ocorria na igreja de Tessalônica, como temos tido ocasião de estudar neste trimestre.
- Ninguém pense que o crente, por ser crente, não irá sentir a partida de um ente querido, de um familiar, ainda que esta pessoa não seja crente (o que, aliás, aumenta ainda mais a dor para o cristão, por saber que esta separação é definitiva, ao contrário daquele que tão somente  dorme”). Paulo apenas não podia tolerar nem admitir que os crentes tessalonicenses encarassem a morte física da mesma maneira que os demais, que não tinham esperança, que não tinham a compreensão do significado da morte física para o salvo.
-  Não quero que sejais ignorantes acerca dos que já dormem para que não vos entristeçais como os demais, que não têm esperança” (I Ts.4:13). O apóstolo sabia que a tristeza era natural aos que ficavam vivos diante de uma morte. Não havia como deixar de sentir tristeza diante da separação de um irmão em Cristo, mormente numa igreja onde havia tanto amor fraternal como Tessalônica, nem a comunhão com Cristo nos transforma em robôs, em seres insensíveis, antes, pelo contrário, aguça a nossa humanidade, pois ser humano é ser imagem e semelhança de Deus e isto, sem dúvida alguma, só o crente pode ser em toda a sua plenitude.
- Jamais se pode exigir de um crente que não sinta tristeza numa ocasião fúnebre, pois, além da tristeza própria de cada um, sentimos, em situações como esta, a tristeza de todos os que nos cercam, num ambiente que aumenta, ainda mais, a tristeza, tanto que assim que Jesus, mesmo sabendo que ressuscitaria Lázaro, chorou diante do clima fúnebre quatro dias depois do sepultamento de Lázaro. Se Jesus chorou, quem somos nós para não nos entristecermos diante disto?
- Sentimos tristeza quando alguém querido se separa fisicamente de nós porque somos humanos e isto é perfeitamente natural, não residindo aí a diferença entre o crente e o ímpio. O apóstolo enfatiza que a tristeza do crente, embora natural e perfeitamente compreensível, não pode ter o mesmo sentido da tristeza do ímpio e é este sentido, este significado que faz a diferença entre uma e outra.  Não vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança” (destaque nosso). O crente fica triste quando alguém morre, mas não pode agir como os ímpios, que não têm esperança.
- A distinção entre a tristeza do crente e a tristeza do ímpio em ocasiões fúnebres está na esperança que tem o crente de que, além da morte física, existe uma eternidade de delícias com o Senhor, existe uma plenitude da vida eterna que já começamos a gozar aqui. O crente sabe que, com a morte física, há tão somente uma passagem para uma comunhão mais perfeita com o Senhor, é uma etapa a mais na caminhada rumo à glorificação, quando, então, no dia do arrebatamento da Igreja, tanto mortos quanto vivos, que agora são filhos de Deus, terão manifestado o que haverão de ser, pois, quando Cristo Se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque assim como é O veremos (I Jo.3:2).
- Quando estivermos diante de uma ocasião fúnebre de um servo do Senhor, não devemos nos desesperar, como é costumeiro ocorrer quando se trata da morte de ímpios ou da reação de ímpios diante da morte de entes queridos, como estava acontecendo em Tessalônica, mas, pelo contrário, ainda que entristecidos, porque humanos somos, temos de nos consolar e nos confortar com a esperança que temos de que Jesus virá buscar a Sua igreja e que, vivos e mortos, serão reunidos nos ares e se encontrarão com o Senhor, para vivermos uma plenitude de comunhão com o Senhor.
- Em mais um paradoxo da vida cristã, no momento da tristeza pela separação de uma pessoa querida, com quem compartilhávamos o amor divino, o amor fraternal, a alegria de servirmos e sermos abençoados pelo mesmo Deus e Pai, sentimos alento espiritual, conforto e consolo pelo fato de sabermos que há uma promessa de nos reunirmos, num corpo glorioso e transformado, com o Senhor naquele dia em que seremos glorificados. A morte física do crente, portanto, não é apenas um motivo de tristeza, mas uma fonte de esperança e de estímulo e incentivo em seguirmos até o fim com fidelidade e santidade, assim como aquele que se separa fisicamente de nós.
- A razão da esperança que o crente tem e o ímpio não é a doutrina da ressurreição, que é, então, explicada pelo apóstolo Paulo. Ao contrário dos gregos, que viam a imortalidade da alma e a possibilidade de reencarnação, ou dos judeus, que enxergavam uma ressurreição vinculada ao corpo físico que temos hoje, o apóstolo ensina os crentes que há uma esperança diferente para a humanidade, em razão da ressurreição de Jesus Cristo.
- A grande diferença entre a fé cristã e as demais crenças que o homem tem é o fato de que Deus provou a verdade do evangelho e do perdão dos pecados em Cristo Jesus por intermédio da ressurreição de Jesus. Ela é a base angular de nossa fé, a ponto de o apóstolo, anos mais tarde deste escrito que ora estudamos, ter dito que a fé cristã seria vã, seria vazia, não teria qualquer sentido se Cristo não tivesse ressuscitado. O túmulo vazio é a principal e a irrefutável prova de que Cristo é a verdade, que Seu sacrifício foi aceito por Deus e tem poder para reconciliar a humanidade com o seu Criador.
- Jesus ressuscitou, ou seja, morreu mas reviveu e reviveu num corpo glorioso, um corpo que não estava submetido às leis da natureza, tanto que ingressou em local onde as portas e janelas estavam fechadas no cenáculo em Jerusalém, desapareceu após abençoar o alimento em Emaús ou subiu aos céus, desafiando a gravidade no monte das Oliveiras. A ressurreição de Cristo é a comprovação de que Deus irá, também, ressuscitar os crentes que tiverem morrido até o dia do arrebatamento da Igreja, pois Jesus prometeu que todos os Seus com Ele viveriam para sempre nas moradas celestiais que Ele haveria de preparar.
- Neste passo, vemos que a ressurreição proclamada pelos crentes em Jesus é diferente de tudo quanto havia sido falado a respeito seja pelos gregos, seja pelos judeus. Jesus ensinou a respeito da ressurreição, jamais tendo falado em reencarnação, não confundindo uma coisa com outra. Por mais de uma vez, o Senhor confirmou a crença judaica da ressurreição, que nada tem que ver com os ensinos hinduístas, budistas ou da filosofia grega a respeito da reencarnação, como tentam dizer, sem qualquer base, os adeptos do espiritismo.
- Mas, ao falar em ressurreição, Jesus também não compartilha do entendimento dos judeus, de que o corpo físico atual seria o corpo dos ressuscitados, tendo Ele próprio demonstrado isto quando de Suas aparições pelo espaço de quarenta dias antes de Sua ascensão aos céus, que é a última demonstração de que o corpo que receberemos é um novo corpo, um corpo espiritual, um corpo glorioso, como o apóstolo Paulo explicaria aos coríntios (I Co.15:42-44,50-54).
- A ressurreição de Jesus é a principal prova de que a fé cristã é a verdadeira, de que o caminho para a salvação é Jesus e, ao mesmo tempo que é o fundamento da nossa fé, é o motivo da esperança que faz com que o crente não se desespere ao ver a partida de um irmão em Cristo. Assim como Jesus ressuscitou, também os crentes que morrerem antes da volta do Senhor ressuscitarão. Cristo foi feito as primícias dos que dormem, ou seja, foi o primeiro a ressuscitar, mas, depois dele, virão outros, aqueles que serão os frutos do Seu trabalho salvador. Aliás, ao ser considerado como as primícias, Jesus assume a mesma posição dos primeiros frutos que eram apresentados ao Senhor, em Israel, em gratidão pelo sustento do povo, frutos estes que eram colhidos por ocasião da festa de Pentecostes(Ex.34:22; Nm.28:26). A gratidão do povo somente se consumava por ocasião da festa da colheita, que era a Festa dos Tabernáculos, que se realizava apenas no final do ano civil, no sétimo mês(Dt.16:13-15), quando, então, o restantes dos frutos era oferecido ao Senhor em ação de graças. Este período do ano judaico, entre Pentecostes e Festa dos Tabernáculos, representa a dispensação da graça, o tempo da Igreja, e o mesmo destino que tinham as primícias, qual seja, o de ser levado à presença do Senhor, tinham os frutos no tempo da colheita. Por isso, o mesmo destino que teve Jesus, o de ressuscitar num corpo glorioso e ir para o céu, será o destino que terão os demais crentes, ressuscitando aqueles que já tiverem morrido e, reunidos com os vivos, todos em corpos gloriosos, também irão para o céu, para a Nova Jerusalém, onde habitarão para sempre com o Senhor.
- A mensagem da ressurreição de Jesus era central na pregação do evangelho na igreja primitiva. Encontramos no dia de Pentecostes o papel singular que representou a ressurreição de Jesus no sermão de Pedro e as palavras de Paulo neste que é talvez o primeiro registro escrito do Novo Testamento, uma vez mais notamos a ênfase que o apóstolo dá à ressurreição de Cristo, tema que já havia sido ensinado aos tessalonicenses, pelo que verificamos das palavras do apóstolo, que se refere à ressurreição de Jesus como algo que já era de pleno conhecimento dos crentes de Tessalônica. A centralidade desta mensagem era tanta que até os inimigos do evangelho faziam questão de dizer que Paulo ensinava  …de um tal Jesus, defunto, que Paulo afirmava viver” (At.25:19  in fine”).
- A pregação baseada na ressurreição de Cristo está, também, rareando nos púlpitos de nossas igrejas locais. Falar na ressurreição de Jesus é mostrar a fragilidade e o caráter passageiro desta nossa existência física sobre a face da Terra e isto, certamente, não interessa a pregadores de prosperidade, a enganadores que tentam, como já vimos neste trimestre, obter vantagens e satisfazer outros interesses mediante a pregação da Palavra de Deus, como o enriquecimento, a ascensão social, a conquista de poder e outras coisas menos nobres. Entretanto, sigamos o exemplo de Paulo e dos apóstolos, mostrando ao povo a esperança de uma vida verdadeira, de uma vida gloriosa, cuja prova está no fato de que Jesus ressuscitou.
IV – O ENSINO DE PAULO A RESPEITO DO ARREBATAMENTO DA IGREJA
- Após mostrar o motivo pelo qual o crente não deveria ficar sem esperança diante da morte dos irmãos em Cristo, Paulo explica como se dará o arrebatamento da Igreja, este dia que todos os crentes esperam e desejam.
- Os crentes de Tessalônica esperavam Jesus e ficaram perturbados com o fato de alguns dos seus estavam morrendo antes que Jesus voltasse, mas o apóstolo lhes ensina que os crentes falecidos não estavam  perdendo a oportunidade” ou  perdendo a vez”, mas, muito pelo contrário, no dia do arrebatamento da Igreja, teriam a primazia, uma vez que ressuscitariam e receberiam, antes dos crentes que estivessem vivos, o corpo glorioso, o corpo transformado que terão os crentes para se encontrar com o Senhor nos ares.
- O apóstolo mostra-nos, assim, que a Igreja só será a reunião de todos os que saíram do mundo (εκκλήσια,  ekklesia”) por ocasião do arrebatamento da Igreja, quando, então, todos os que creram em Jesus em todos os tempos, de todas as raças, tribos e nações, vivos e mortos, encontrar-se-ão com o Senhor nos ares para estarem para sempre com Ele.
OBS:  …A Igreja de Jesus Cristo é composta de bilhões vezes bilhões de almas, uma multidão que homem algum jamais poderá calcular. Com certeza, a Igreja será inaugurada quando todos os remidos, de todos os tempos, juntamente com o santos que morreram desde o princípio da geração, e foram evangelizados por Cristo após a ressurreição, estiverem reunidos em número incalculável, liderados pelo Senhor Jesus Cristo, que irá adiante da grande multidão e nos apresentará ao Pai, dizendo:Hebreus 2.12:’…Eis-Me aqui, e aos filhos que Deus Me deu.’ Então haverá festa nos céus, todas as hostes celestiais se alegrarão juntamente com todos os seus servos.…” (Osmar José da SILVA. Reflexões filosóficas de eternidade a eternidade, v.6, p.110).
- Paulo descreve, então, como se dará este grandioso acontecimento, a razão da nossa esperança, esperança que deve ser demonstrada mesmo em ocasiões tristes como a morte dos crentes em Cristo Jesus, ensino este que Paulo diz ser  pela palavra do Senhor” (I Ts.4:15), expressão que causa discussão entre os estudiosos da Bíblia. Que seria esta  palavra do Senhor”? Algum texto das Escrituras? Algum ensino de Jesus que foi transmitido oralmente pelos apóstolos e que é aqui registrado por Paulo no escrito mais antigo do Novo Testamento? Alguma revelação especial que Paulo recebeu do Senhor, a exemplo do texto de I Co.11:23 e ss. quando ensina aos coríntios o sentido da ceia do Senhor? São muitas as indagações, mas o fato é que se trata, sim, de palavra do Senhor e, portanto, que não admite qualquer discussão ou questionamento.
- Paulo diz que os crentes falecidos precederão os que estiverem vivos no dia do arrebatamento da Igreja. O Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus, expressão que é traduzida na Versão Almeida Revista e Atualizada como sendo  dada a Sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus” e que evoca, segundo estudiosos da Bíblia, a chegada de monarcas visitantes na época do Novo Testamento (cf. BÍBLIA DE ESTUDO PLENITUDE, nota a I Ts.4.16, p.1253). Também eram expressões conhecidas dos judeus, que se encontravam rotineiramente nos escritos apocalípticos, que foram abundantes entre os israelitas no período intertestamentário (i.e., o período de mais ou menos 400 anos entre o final da redação do Antigo Testamento e o início do ministério de João Batista).
- O que se vê é que o arrebatamento da Igreja se dará, em primeiro lugar, em virtude de uma ordem divina, motivo pelo qual não se sabe quando isto ocorrerá, pois se trata de algo que não foi revelado e que, portanto, cabe apenas ao Senhor (Dt.29:29). É a Sua palavra de ordem, o Seu  alarido”, que dará início a todo o processo, o que certamente se dará quando tiver chegado o fim da nossa dispensação, quando o evangelho tiver sido pregado a todas as gentes (Mt.24:14), que é o último sinal que falta para ser cumprido.
- Em seguida, diz-nos o apóstolo, escutar-se-á a voz do arcanjo, ou seja, o arcanjo ( e a Bíblia só fala de um arcanjo, a saber, Miguel) iniciará o seu trabalho, após a determinação divina, trabalho este que é fruto de discussão entre os estudiosos. De qualquer forma, o fato é que o arcanjo, tal qual um ajudante-de-ordens, um imediato, estará à frente dos exércitos celestiais no retorno triunfal do grande Rei, que virá ao encontro da Sua noiva.
OBS: A propósito, a menção do arcanjo juntamente com o Senhor mostra, claramente, que não tem qualquer fundamento a idéia de algumas seitas em procurar identificar Jesus com o arcanjo Miguel.
- A seguir, soará a trombeta de Deus, trombeta que significa o chamado do povo para a sua reunião e retirada, assim como Moisés tocava as trombetas não só para chamar o povo de Israel ns reuniões que ocorriam no deserto, mas também para o aviso de sua retirada do lugar onde estava acomodado na sua viagem para Canaã (Nm.10:2). A imagem da trombeta, portanto, fala-nos, a um só tempo, da reunião da Igreja e da sua retirada desta terra, onde estava apenas de passagem, rumo a Canaã celestial.
- Diante deste chamado para reunião e retirada, ensina Paulo que os mortos ressuscitarão primeiro e sua ressurreição será como a de Cristo, ou seja, ressuscitarão em corpos gloriosos, que não obedecerão às leis da física, tanto que se reunirão com o Senhor nos ares, desafiando a gravidade e tudo o mais que domina a matéria neste mundo. Os crentes falecidos, portanto, terão restabelecida a sua unidade e se apresentarão ao Senhor, glorificados. É interessante observar que, como já vimos, não se fala em retomada de consciência, mas em aquisição de um corpo espiritual, o que é coisa bem diversa.
- Depois, os que estiverem vivos neste grande dia, serão arrebatados, retirados repentina e violentamente da Terra, adquirindo também corpos gloriosos, iguais aos dos crentes ressuscitados e todos, reunidos, se encontrarão com Senhor nos ares, para o início de uma vida plena de comunhão com o Senhor.
- Este era o motivo pelo qual os crentes tessalonicenses não deveriam se desesperar com a morte dos crentes antes da vinda do Senhor e é o motivo pelo qual também, hoje em dia, devem os cristãos encarar e enfrentar a morte física de nossos irmãos em Cristo. Temos de ter esperança, temos de visualizar a nossa vida terrena apenas como uma passagem, como uma peregrinação, porque não devemos nos prender às coisas desta vida.
- Diz o sábio Salomão que o lugar onde há luto é melhor do que o lugar onde há banquete (Ec.7:2), o que parece ser um contra-senso, notadamente numa sociedade que, cada vez mais, prestigia a diversão, o entretenimento, o prazer, como é a sociedade em que vivemos na atualidade, sentimento este, aliás, que contagia os próprios crentes, que preferem participar de reuniões festivas, de cultos de demonstração aparente de alegria e vivacidade.
- No entanto, as palavras do sábio, vindas de um homem já envelhecido e experiente na vida, que se reconciliara com o Senhor, são as verdadeiras. Na casa onde há luto, vê-se o fim de todos os homens e isto faz com que reflitamos sobre o que significa a vida física sobre a Terra, o que deve ser prioritário nas nossas vidas. Na casa onde há banquete, a ilusão encontra ocasião, de modo que podemos ser levados pela aparência, o que não ocorre quando nos defrontamos com a morte física, que nos traz à mente a realidade do pecado e da eternidade.
- Só existe uma solução para a morte e ela é Jesus. Jesus resolve o problema do pecado e, ao termos nossos pecados perdoados, eliminamos a morte, passamos da morte para a vida (Jo.5:24; I Jo.3:14). Quando aceitamos a Cristo, deixamos de ter a morte espiritual, pois somos vivificados em Cristo, cessa a separação entre nós e Deus. Quando aceitamos a Cristo, ganhamos uma nova natureza, passamos a ser uma nova criatura e, por isso, temos uma moralidade que reflete a glória de Deus, deixando, portanto, de ter a morte moral. Quando aceitamos a Cristo, temos a vida eterna, a certeza de que estaremos para sempre como Senhor, o que atingirá sua plenitude no dia do arrebatamento da Igreja. Assim, estamos livres da condenação eterna, da morte eterna. Por fim, mesmo aqueles que morreram fisicamente (e a morte física deixou de ser uma certeza para os que aceitam a Cristo, pois haverá aqueles que dela serão poupados, os que estiverem vivos no dia do arrebatamento), ressuscitarão, a exemplo de Cristo, de modo que a morte física também deixou de ser inevitável e um obstáculo à glorificação de quem aceita a Cristo.
- Por isso, diante de tais ensinos revelados pelo Senhor na Sua Palavra, não há mesmo motivo senão de nos consolarmos, de nos confortarmos, mesmo quando encararmos a morte.  Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras” (I Ts.4:18).
Colaboração para o Portal EscolaDominical: Prof. Dr. Caramuru Afonso Francisco.


Pb. Levi Vidal
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